Post Eng Fernando Perpetua

A criatividade e Know how dos portugueses na Cerâmica está acima da média mundial

O presente e futuro da cerâmica – Visão de Fernando Perpétua.

Os Portugueses irão continuar a dar cartas no panorama mundial, no que à cerâmica diz respeito. Também perspetivo um futuro cada vez mais atrativo para os jovens nesta área e, por fim, destaco a cerâmica como capaz de ajudar o nosso estilo de vida a ser cada vez mais sustentável ambientalmente.

O mundo está sempre em mudança, umas vezes mais lenta outras vezes muito rápida, sendo que nos últimos anos a aceleração tem sido bastante elevada.

As empresas têm que estar atentas a todas as mudanças que acontecem diariamente.

Portugal está na moda, é uma janela de oportunidade a não perder, todos os produtos portugueses, não só de cerâmica, são bem recebidos nos mercados internacionais, temos que saber tirar partido deste bom momento.

Temos que nos interrogar porque é que Portugal está na moda.

Eu penso que é devido, entre outros, a 3 fatores essenciais:

  1. Devido à nossa capacidade criativa estar acima da média internacional
  2. Confiança, nós hoje temos elevada credibilidade a nível internacional
  3. Possuímos saber e know-how acima da média internacional

Os empresários sabem bem, que o futuro das empresas não se faz apenas hoje, mas sim fazendo sempre, quem parar arrisca-se a não recuperar e ficar pelo caminho, juntos seremos mais fortes e vamos mais além.

Atualmente fala-se muito nas empresas 4.0, com enfoque muito forte nas tecnologias de informação.

As tecnologias de informação e gestão integrada da produção, não são uma novidade de hoje, dentro da Indústria da Cerâmica em Portugal, e são cada vez mais ferramentas diárias de trabalho.

No presente vivemos uma época atípica, devido ao Covid-19, que não sabemos quando acabará.

As empresas têm uma vez mais que se reinventarem, para manterem os negócios a nível internacional, uma vez que, não existem feiras nem reuniões presenciais, para não perder negócios, a chave é utilizar as tecnologias de informação e comunicação.

Os contactos e reuniões terão que continuar a ser feitos via Skype. As feiras são via virtual através de plataformas de venda direta, tudo tem que continuar e nada parar, estes são os novos desafios para criar negócio, que devem ser abraçados por todos, independentemente do setor.

A cerâmica portuguesa vai com certeza destacar-se no panorama mundial em todos os subsetores da cerâmica.

A indústria cerâmica é uma indústria milenar, já atravessou ao longo da sua vida muitas crises, mas, sempre foi capaz de resistir, reinventar-se e tornar-se cada vez mais forte, não será a pandemia do Covid-19 que nos vai destruir agora.

A cerâmica foi durante séculos uma indústria tradicional e muito fechada, nas últimas décadas do século 20, o paradigma mudou completamente.

Deu-se uma evolução notável, na indústria cerâmica, através da automatização onde o fator tecnológico foi determinante para a reconversão e automatização das empresas.

Os empresários que tiveram a visão, dinâmica e capacidade de investimento no conhecimento, na reconversão e modernização tecnológica das empresas, deram um salto significativo em relação ao estado da Arte da indústria de Cerâmica em Portugal.

O investimento dirigiu-se inicialmente para a reconversão e modernização tecnológica do processo produtivo, a automatização das operações, o aumento da capacidade instalada, a racionalização dos consumos energéticos, fornos mais rápidos com carga/descarga automatizada. A aposta na inovação, no design, na qualidade e criação de novos produtos, foram fatores preponderantes na conquista de novos mercados.

Mais do que obter ganhos de competitividade, as empresas iniciaram uma nova era na indústria cerâmica, onde a tradição, a inovação e o design se combinam de uma forma ajustada e harmoniosa para criar maior valor aos clientes pela excelência na oferta de produtos tradicionais com qualidade, diferenciadores, com design e inovação.

Foram criados centros de conhecimento e saber, fundamentais na evolução da indústria cerâmica no nosso país, ora vejamos:

  • Universidade de Aveiro
  • Instituto Politécnico de Viana de Castelo
  • Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro em Coimbra
  • Cencal nas Caldas da Rainha

A Universidade de Aveiro, além de formar engenheiros para a Indústria, efetuou o levantamento, caracterização e seleção de todas as Matérias Primas existentes no país, desenvolveu novos produtos especialmente cerâmicas técnicas, apoiou as empresas na criação e desenvolvimento de novos produtos. Apoiou a criação de Centros Tecnológicos e Institutos Politécnicos.

O Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro em Coimbra, o Cencal nas Caldas da Rainha, apoiaram as empresas no terreno através de análises químicas e físicas das matérias-primas, dos produtos e na formação de quadros e certificação do produto.

Nós estamos hoje, em termos tecnológicos, ao melhor nível internacional, temos algumas das melhores empresas do mundo. O nível de qualidade dos nossos produtos são hoje comparados com os melhores que se fazem internacionalmente.

Em relação à criatividade e ao Know-how estamos acima do que se faz a nível mundial.

As exportações dos produtos cerâmicos portugueses, já estão numa fase de recuperação, embora lenta, se não vejamos:

Segundo os dados estatísticos fornecidos pelo INE de janeiro a junho de 2020 as exportações portuguesas de cerâmica nos meses de janeiro e fevereiro de 2020, tiveram uma variação positiva de 0,6% e 0,2% face aos meses homólogos do ano anterior 2019, não refletindo ainda o efeito do Covid-19, apenas a partir de março 2020, esse efeito começou a ser visível, com redução das exportações portuguesas praticamente em todos os mercados internacionais.

Utilizando sempre o mesmo período homólogo de comparação de 2019 e 2020 a redução das exportações foram as seguintes:

Março 2020, -11.9%, abril 2020, -41,3%, maio 2020, -46,8%, junho 2020, -6,7%, julho 2020, -6,0%.

Nesta análise pode-se concluir que estamos a atingir a fase de recuperação, embora muito longe da recuperação total.

As perdas durante o pico da pandemia entre abril e maio de 2020, dificilmente serão recuperáveis.

No primeiro semestre de 2020, as exportações de produtos cerâmicos chegaram a 150 mercados internacionais e atingiram o valor na ordem dos 299,5 milhões de euros.

Enquanto as importações de cerâmica no mesmo período atingiram o valor de 91 milhões de euros

O saldo da nossa balança comercial de produtos cerâmicos foi na ordem dos 208,2 milhões de euros, a taxa de cobertura das exportações verso importações atingiu os 328,7%, enquanto a taxa de cobertura média para o conjunto de bens foi de 77,1%, desta análise ressalta a importância que a Indústria Cerâmica representa, nas exportações de bens transacionáveis para o país.

Será que a Indústria cerâmica é e vai continuar a ser atrativa para os jovens?

A minha resposta é sim e sim.

A Indústria de Cerâmica, mesmo a artesanal, nada tem a ver com a que tínhamos no passado.

A Indústria de Cerâmicas hoje, utiliza com sucesso, um conjunto de tecnologias e modelos organizativos típicos de indústria de tecnologia de ponta, integrando de uma forma modelar as novas tecnologias de digitalização e informação, tecnologias avançadas de fabrico e tecnologias tradicionais.

O que permite às empresas disponibilizar aos seus clientes produtos de excelência, diferenciadores, com qualidade, design e inovação, isto é, criar peças em cerâmica com arte.

E é, a meu ver, este desafio que cativa os jovens para a indústria cerâmica, trabalhar com nova tecnologia, tecnologias de informação e digitalização, design, inovação.

Os designers têm hoje uma função importante na estrutura das empresas, são a parte criativa das empresas, quer na criação e desenvolvimento dos produtos próprios da empresa, quer no apoio aos designers do próprio cliente no desenvolvimento dos seus produtos.

Nem sempre foi assim, quando eu era mais jovem os primeiros designers que começaram a trabalhar com indústria, na generalidade, sentiram muita dificuldade na aceitação dos seus projetos. Lembro-me que se dizia que o bom design era aquele que criava peças factíveis e com boa aceitação nos mercados. Felizmente e, para bem de todos, a mentalidade de agora é completamente diferente, muito mais aberta, sempre pronta para novos desafios. Abrindo deste modo as portas à criatividade. Foi tudo isto que alavancou e despertou o interesse dos criadores de arte e design de todo o mundo, a virem a Portugal à procura da nossa criatividade e arte, para desenvolver os seus projetos com êxito.

Se me perguntarem se cerâmica é uma das indústrias ecológicas eu diria que sim.

Os produtos cerâmicos não são produtos descartáveis, são produtos de vida longa que, mesmo no final de vida, podem ser reciclados.

A economia circular, viveu desde sempre dentro da cerâmica e assim continua. Todos os resíduos (aparas) da conformação e acabamento, são reciclados, tratados e adicionados às pastas da produção. Os resíduos da cozedura do vidrado, podem e são reciclados como inertes e utilizados na construção.

Destacamos também que a cerâmica tem respondido e interagido com outros setores industriais como dadora de resíduos, exemplo os moldes de gesso são reutilizados como matéria prima na indústria de cimento, no intuito de contribuir para a melhoria ambiental e resíduo zero.

Cumprimos as regras ambientais e racionalizamos os consumos energéticos. Por tudo isto, podemos concluir que a indústria de cerâmica é amiga do Ambiente.

Texto da autoria de Eng. Fernando Perpétua:

Sócio fundador da Perpétua, Pereira & Almeida (S. Bernardo)

Licenciado em Engenharia de Cerâmica e Vidro, foi diretor industrial na Spal durante mais de 20 anos, é também um reconhecido formador nas áreas da cerâmica e do vidro e foi vice-presidente da APICER e da Sociedade Portuguesa de Cerâmica e Vidro.